Portugal é um país com um grande contacto com os mares: a nossa história, as navegações, os descobrimentos e, mais recentemente, a industrialização e as novas práticas, como o surf, devem-se em parte ao vasto oceano, que nos é tão íntimo. O escritor José Saramago referiu que o contacto da nossa cultura com o mar fez a Península Ibérica separar-se do resto da Europa, e como uma grande nau, navegar pelo Oceano Atlântico, tentando o contacto com o mundo de fora.
Nas praias, com as ondas e o calor que já se começa a sentir em Abril, é muito normal encontrar um surfista com a sua prancha Os portugueses estão muitos habituados a estes movimento todos os dias, uma vez que as nossas grandes cidades são banhadas pelo oceano. Muitos pensam que o surf surgiu recentemente, ou pelo menos há poucos anos, mas isso não é verdade. Neste artigo, vamos mostrar que a história deste desporto poderá ter início há quase 4.000 anos e que a sua difusão pelo continente europeu e americano tem origens bastante antigas, no século XVIII.
Mas quando e onde se registaram os primeiros relatos? Quem clama pela invenção da modalidade? Qual é a relação que possui com o mítico e religioso para determinadas civilizações? Quando é que o surf chegou a Portugal e quais são os sítios mais indicados para a prática na nossa terra? Quer saber a resposta a estas perguntas? Continue a ler este artigo até o fim!
Como é o início desta história?
Vamos começar por uma questão muito simples que assola os adeptos das pranchas: quem nasceu primeiro? O surf ou o skate?

Neste caso, não há nenhuma polémica entre o ovo e galinha, o skate surgiu nos anos 50 e, muito provavelmente foi inventado por surfistas. A popularização do skate foi muito diferente, porque foram precisos poucos anos para a modalidade se espalhar e ficar conhecida mundialmente.
É importante ressaltar que o skate pode ser considerado uma prática ainda mais popular do que o surf, pelo simples motivo de ser praticada por moradores de todas as cidades, quer sejam banhadas pelo oceano ou não.
E agora chegou a altura de conhecermos mais sobre a evolução do surf!
A verdade é que as origens do desporto não totalmente conhecidas, a única certeza que existe é que é muito antigo. São várias as civilizações que o utilizavam como comunicação e tradição, numa verdadeira forma de cultura ancestral. Ainda assim, os povos antigos do Perú reclamam que a invenção se deu nas suas terras, há mais de 4.000 anos.
É um facto que, desde que o ser humano se começou a relacionar com o mar, os corpos humanos começaram a ponderar todas as formas de utilização das ondas, Isto inclui não só práticas de pesca e navegação, como também atividades físicas e desportos, como o que hoje denominamos como bodysurf. Esta modalidade também tem origem num conhecimento milenar dos antigos povos, que tinham contacto próximo com os mares e águas.
Ainda assim, os peruanos dizem que foram os primeiros a surfarem com artefactos similares às pranchas na antiguidade. Afirmando que os seus povos construíram um objeto de cana que pudesse ser utilizado como veículo para andar em cima de uma onda.
Apesar do clamor peruano, é um facto concreto que a relação do povo da Polinésia e principalmente do Havai com o surf é milenar, documentada e difundida no âmbito mundial. Há 1.000 anos a prática já era transversal a todas as classes sociais da sociedade havaiana.

É sabido que os reis e chefes das comunidades eram os melhores surfistas da região e mais, tinham as maiores pranchas, que conforme os relatos, poderiam chegar a 4 metros de comprimento. Até os dias de hoje, as ondas do Havai são consideradas das melhores por atletas do circuito profissional e o seu impacto vai muito além do desporto, abrange tradição, cultura e comunicação de valores de uma comunidade.
Mas só no ano de 1779 é que o ocidente se deu conta desta prática até então desconhecida e foram os diários do Tenente James King os responsáveis pela difusão. King ia a bordo da embarcação britânica tripulada pelo famoso Capitão Cook, que partia à descobertas de novas terras. Depois de regressarem, relatou aos ingleses como era o "passatempo exótico" dos havaianos, o ato de surfar. Isto levou a que a ilha se tornasse passagem obrigatória para as embarcações que faziam a travessia do oceano Pacífico no século XIX, e o know-how havaiano foi observado mais de perto.
A primeira popularização do desporto
No início do século XX, dois homens foram responsáveis pela primeira popularização da modalidade numa escala mundial, George Freeth e Duke Kahanamoku. Freeth fazia parte dos beach boys, um grupo de surfistas de Waikiki, numa altura em que a modalidade ainda era praticamente desconhecida.
Em 1907, Freeth conhece o escritor norte-americano Jack London, num acontecimento que acaba por ser muito importante para a popularização do desporto pelo planeta fora. London, escreveu um artigo, que depois de publicado, ganhou notoriedade. Com a possibilidade de apresentar a sua paixão a um público mais alargado, Freeth muda-se para a Califórnia e começa a apresentar-se aos locais. Os norte-americanos relatavam a prática em cima de uma onda como se um ser humano fosse capaz de andar sobre a água.
Duke Kahanamoku, havaiano, foi um dos pioneiros da modalidade. O atleta era conhecido por ser um exímio nadador, tendo representado os Estados Unidos na modalidade numa Olimpíada. O nadador, ator e surfista, fazia tournées mundialmente, apresentando o surf. Foi responsável por levar a modalidade para países como a Austrália e Nova Zelândia.

Conheça outros dos principais nomes do surf, do passado e da atualidade.
A princesa Ka’iulani e a sua importância para o surf
Desde o início da sua popularização até os dias de hoje, as mulheres tiveram e têm um papel de grande importância para o crescimento da modalidade. Mas o primeiro movimento para a conservação da cultura milenar do surf surgiu com a última princesa havaiana, Ka’iulani.
Com a integração da ilha aos Estados Unidos da América, os colonizadores proibiram qualquer demonstração da cultura havaiana. No entanto, a princesa Ka’iulani liderou a resistência do povo nativo e chegou a esconder pranchas que hoje são consideradas relíquias daquele povo. É possível dizer que, se não fosse por Ka’iulani, é provável que a modalidade não tivesse chegado às proporções observadas hoje. Atualmente, a princesa é um símbolo da conservação e da importância cultural do Havai para o mundo.
Como é que o surf chegou a Portugal?
A zona portuguesa histórica, considerada o marco zero do surf em Portugal é Leça de Palmeira. Existem relatos datados de 1920, sobre homens que usavam uma prancha para dominar uma onda.
Com o passar dos anos, e com a sua influente proximidade à Lisboa, a praia de Carcavelos tornou-se o melhor sítio para praticar em Portugal. Já nos anos 1940, a cidade contava com muitos praticantes e, foi nesta década que, em Carcavelos foi fundado o primeiro clube de bodysurf de sempre, mostrando que o desporto também já era conhecido nesta terra.
Nos anos 60, com o boom da experiência do surf na Califórnia, é conhecido o primeiro nome português, Pedro Lima. Para muitos, ainda hoje é considerado o pai do surf em Portugal. Como na altura existia uma escassez de materiais para praticar, uma vez que as pranchas ainda eram pouco difundidas, Pedro Lima é considerado um autodidata no desporto, mas seu nome será sempre lembrado.

No entanto, só após o 25 de Abril é que a modalidade pôde crescer sem barreiras e difundir-se por Portugal fora. Só a partir dos anos 80 é que aumentou o seu impacto, á medida que os circuitos competitivos ganhavam mais espaço nos media e os atletas popularizavam os seus nomes com os avanços tecnológicos da comunicação. Ainda assim, a Federação Portuguesa de Surf apenas foi fundada em 1989 e a primeira competição portuguesa com prémio monetário só aconteceu 3 anos depois, em 1991.
No ano seguinte, a seleção nacional portuguesa disputou pela primeira vez o mundial de amadores de seleções, que foi transmitida na televisão portuguesa, na SIC. Em 1995, obtém o 2º lugar no Campeonato Europeu Open. Alguns anos mais tarde, em 2004, Justin Mujica conquista o primeiro título individual profissional do surf português. Em 2010, o evento em Peniche entra em definitivo para o calendário da ASP internacional, mantendo-se desde então no World Tour. E dois anos mais tarde, em 2012, Garret McNamara surfa a maior onda alguma vez surfada no mundo, na praia da Nazaré.
É este evento que impulsiona a modalidade em Portugal, tornando-se numa fonte para o turismo e para que os estrangeiros conheçam parte da nossa relação com o mar. Vejamos como é que impulsionou a modernização do desporto em Portugal e a importância da modalidade para cidades portuguesas como a supracitada Carcavelos, Nazaré, Ericeira, o Algarve e Peniche, por exemplo.
Saiba quais são os materiais necessário para praticar!
O surf em Carcavelos, Nazaré, Ericeira, Foz, Algarve e Peniche
Com a modernização do desporto, a prancha ganhou novos ares, a tecnologia foi adicionada e novos locais na costa portuguesa foram descobertos e ganharam um alto valor para a nossa economia, que se baseia muito no turismo, sendo destino obrigatório destas atividades.
- Carcavelos: o marco zero da popularização do desporto em Portugal;
- Nazaré: que possui os picos necessários para a versão mais extrema do surf, o local das ondas gigantes que terminam no areal;
- Ericeira: o sítios das competições internacionais;
- Peniche: paraíso para os competidores e parte do circuito internacional;
- Foz: o melhor sítio para os locais nortistas;
- Algarve: o local mais procurado para as ondas do sul de Portugal.
Nas cidades supracitadas é possível encontrar uma rede, uma comunidade, voltada para a cultura surfing, com empresas que fortalecem economicamente a sua zona. Assim, em sítios como a Ericeira, Carcavelos e Peniche, poderá ter aulas de surf e aprender a magia deste estilo de vida.
É também nestes locais que pode normalmente encontrar os maiores atletas portugueses a praticar e a melhorar as suas técnicas. A verdade é que temos em Portugal muitos surfistas de enorme talento, que levam o nome do país para as bocas do mundo e inspiram futuras gerações de atletas que querem seguir nos seus passos. Se é apaixonado pela modalidade, certamente que vai reconhecer a maioria dos nomes, mas para quem está agora a começar, estes são alguns dos atletas portugueses de referência mundial:
- Frederico Morais: o surfista português mais conhecido. Nascido em 1992, aos 14 anos conquistou o título nos sub21. Começou a praticar bodyboard aos 6 anos e, hoje em dia, treina três vezes ao dia para dominar os supertubos. Compete no circuito da Liga Mundial de Surf masculino (WSL) desde 2017, e fez carreira entre os circuitos principal e de qualificação. Kikas, como é popularmente chamado, é o português rácio de vitórias mais alto nesta competição, razão pela qual é para muita gente o melhor surfista português;
- Nicolau Von Rupp: nascido em 1990, é um dos mais conceituados free surfers/big wave surfers portugueses e é considerado uma verdadeira “máquina competitiva”. As suas aventuras no oceano começaram aos 9 anos e, com apenas 15, foi vencedor de duas etapas consecutivas na liga. A partir daí, deixou a sua marca no desporto português. Em 2013, foi considerado o “Surfista Europeu do Ano”. Foi bicampeão do “Capítulo Perfeito” e competiu no World Championship Tour;
- Teresa Bonvalot: esta atleta foi a primeira portuguesa a ser campeã europeia do WQS (World Qualifying Series) da WSL, em 2022. Nascida em 1999, iniciou a sua carreira aos 9 anos, quando sonhava em ser a versão feminina de Kelly Slater. Tem dois títulos europeus em juniores e já foi campeã nacional quatro vezes;
- Tiago Pires: também conhecido como Saca, nasceu em 1980 e descobriu a modalidade muito cedo. Estreou-se em 1993 e conquistou dois primeiros títulos de campeão em 1994 e em 1995, tornando-se o primeiro português a obter um título europeu e começando a sua ascensão à elite do surf mundial. Em 2000, tornou-se o primeiro português a conseguir a um vitória fora do WQS. Estes feitos levaram a que o surf português se divida num antes e um depois das competições do atleta;
- Vasco Ribeiro: nasceu em 1994 e entrou cedo na modalidade, competindo no seu primeiro campeonato com apenas 9 anos. Foi aí que percebeu que era feito para competir. Foi campeão nacional em sub12, 14, 16 e 18, bem como campeão europeu e vice-campeão mundial. Em 2014, fez história no surf português e internacional ao sagrar-se tricampeão nacional, campeão europeu e campeão mundial de juniores.
Saiba quais sãos as principais competições do desporto.
Como é o mundo do surf em Portugal hoje em dia?
Em Portugal e na Europa, o Campeonato Mundial de Surf (CT) cativa todos os anos milhares de pessoas. Por cá, é a praia de Peniche que sedia uma das etapas da competição, conhecida como "super tubos", desde 2010.

Nesta altura, os competidores são considerados super estrelas mundiais e o CT é uma das competições mais vistas, considerando todos os desportos, no planeta todo. Existem redes de televisão totalmente voltadas para o público surfista e para os que apreciam este estilo de vida.
Nas cidades supracitadas é possível encontrar uma rede, uma comunidade, voltada para a cultura surfing, com empresas que fortalecem economicamente a sua zona. Assim, em sítios como a Ericeira, Carcavelos e Peniche, poderá ter aulas de surf e aprender a magia deste estilo de vida. Mas, como é que se sente o resto da população dessas zonas em relação a este crescimento?
Nas últimas décadas, a modalidade tem vindo a aumentar exponencialmente o seu número de praticantes. Em Portugal é o desporto da moda, e atrai todos os anos inúmeros praticantes portugueses e estrangeiros à extensão de costa portuguesa. Aliado a alguns dos eventos que mencionamos anteriormente, isto provocou um aumento de turistas estrangeiros praticantes da modalidade.
Por um lado, isto significa um verdadeiro investimento no turismo português, principalmente durante as grandes provas de surf. Os campeonatos internacionais atraem meios de comunicação social (nacionais e internacionais), que por sua vez promovem o destino durante a cobertura do evento. Isto fomenta o crescimento do número de turistas no continente e nas ilhas. Este turismo assume duas formas distintas: de praticantes assíduos, que normalmente viajam nos períodos das temporadas locais e os iniciantes ou praticantes esporádicos, que normalmente são os turistas de verão. Isto leva a que haja turismo da modalidade em Portugal durante o ano inteiro.
Este turismo costal faz-se sentir a vários níveis. Há cada vez mais escolas de surf, camps, hostels, houses, etc. Por um lado, fomenta a economia portuguesa mas também a satura. Existe em algumas zonas uma descaracterização do território e falta de infraestruturas. Há um crescimento desgovernado, e nos meses de verão existem praias sobrelotadas, onde se torna quase impossível surfar tranquilamente. Isto leva a que as pessoas comecem a não se sentir bem em ambientes com muita gente aglomerada, o que por sua vez começa a afastar os turistas.

É essencial que, no futuro, sejam adotadas algumas práticas de gestão sustentável. Até porque, para muitos destes profissionais, é este turismo que permite sustentar as suas carreiras. Os surfistas são, normalmente, pessoas que se dedicam a viajar para poderem experienciar tipos diferentes de ondas. Mas os praticantes assíduos não procuram só uma boa onda, e sim boas condições para praticar a modalidade. Essas condições são, normalmente, dependentes do investimento feito.
E como sabemos que em Portugal, sem ser o futebol, os desportos não possuem grandes investimentos governamentais, o turismo tem um papel essencial. Ainda assim, são vários os atletas que tentam chegar a profissionais e ter uma carreira na modalidade. E os que não querem ser atletas profissionais, mas que querem fazer carreira no surf, podem optar pelo ensino (mesmo que com uma remuneração mais baixa). De qualquer das formas, é perfeitamente possível ter carreira de surfista e praticar a modalidade em Portugal!
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