É possível mostrar o poder que a matemática dá às pessoas.
Jaime Carvalho e Silva
Ensinar matemática a crianças pode não ser tão simples como imagina. Ensinar é uma tarefa que exige rigor, concentração, organização e empatia. É preciso compreender a realidade dos alunos para identificar as necessidades e exigências de cada um. Principalmente se estes sofrerem de dislexia.
A dislexia é uma das causa mais frequentes do baixo rendimento e insucesso escolar. Além disso, na maioria dos casos, nunca chega a ser identificada e muito menos tratada corretamente. É uma das perturbações mais frequentes na escola, chegando a afetar quase
dos alunos em idade escolar.
Mas com uma educação adequada e adaptada às suas necessidades específicas, os alunos com dislexia podem ultrapassar todas as suas dificuldades e atingir o sucesso académico da mesma forma que os restantes estudantes. Mas, como professor, o seu papel é essencial. Saiba como!
A matemática com dificuldades de leitura e de escrita
Não interessa qual é a dificuldade que o seu aluno tem: é fundamental que se sinta à vontade com a matemática da mesma forma que se sente com as restantes disciplinas.

A dislexia pode ser definida como uma perturbação na aprendizagem da leitura, devido à dificuldade no reconhecimento da correspondência entre os símbolos gráficos e os fonemas, bem como na transformação de símbolos escritos em símbolos verbais. E como a incapacidade pode estar associada a outras perturbações como a hiperatividade, muitas vezes também afeta outros aspetos da vida do aluno, como a memória, a capacidade de concentração, e ainda o seu sentido de organização.
Para garantir que o ensino de matemática é eficiente - seja com crianças, jovens ou adultos disléxicos - deve utilizar métodos de aprendizagem específicos, incluindo uma abordagem multissensorial. Esta abordagem educativa desperta as faculdades cognitivas e a consciência de si mesmo.
A abordagem multissensorial
Este método de ensino envolve a utilização de todos os nossos sentidos, como a visão, o tato, a audição, o olfato… Mas como é que funciona verdadeiramente na prática?
Aprendizagem visual e sensorial
Para ensinar matemática de forma eficaz, é necessário que a aula seja o mais visual e sensorial possível. Pode utilizar cartolinas e cartazes para ilustrar uma fórmula ou uma informação à qual recorre frequentemente. Se possível, ilustre-a com desenhos ou figuras, para ativar as capacidades motoras e auditivas. Envolva os seus alunos na elaboração de todos os elementos.

Procure também inserir atividades lúdicas de acordo com o nível de estudos. A verdade é que a capacidade de concentração de uma pessoa disléxica pode ser mais reduzida, e tudo o que é lúdico contribui para que o estudante se envolva no processo de aprendizagem com maior atenção.
Do ponto de vista do aluno, este tipo de atividade é muito interessante e gratificante, uma vez que proporciona um sentimento de realização, afastando as inseguranças em relação à matemática, graças ao explicador matematica.
E utilize a palete inteira de cores! Todas as referências visuais são bem-vindas e ajudam os alunos a identificarem e registarem o que está escrito no material. As cores podem ser utilizadas na elaboração de um gráfico, uma tabela, números decimais… Não se esqueça só de diferenciar as cores dos números e da nota do aluno (procure utilizar outra que não o vermelho, que tem uma conotação negativa associada).
Noção de tempo
As pessoas disléxicas podem ter dificuldades com a noção do tempo, como consequência principalmente da falta de concentração. Podem perder facilmente a atenção devido aos ruídos mais pequenos ou a qualquer outro fator externo. Numa situação que obrigue a mais de 10 ou 15 minutos de atenção, como um vídeo, a sua capacidade de concentração pode ser verdadeiramente testada.
Os disléxicos também enfrentam problemas com as memórias a curto prazo, o que torna as anotações e a compreensão de instruções simples uma tarefa mais difícil.
Como ensinar matemática neste contexto?
Tendo em conta tudo o que dissemos até agora, pode parecer uma tarefa quase impossível ensinar matemática a estes alunos. Mas não é! Para o ajudar, deixamos algumas dicas.
O ensino da matemática a alunos disléxicos requer abordagens específicas e estratégias adaptadas para as suas necessidades. Mas é importante que as estratégias sejam adaptadas ao aluno em questão, porque nem todas as crianças disléxicas têm as mesmas dificuldades. Perca algum tempo a perceber quais são os problemas específicos que o estudante enfrenta.

De forma geral, não perde por adotar um ritmo mais calmo e não se apressar para acabar a aula. É importante que dê tempo ao aluno para anotar as palavras e fórmulas que apontou no quadro. Só assim vai garantir que a criança assimilou todos os exercícios e as explicações matemática online antes de passar para a próxima lição.
Repita as orientações as vezes que forem necessário, e pontue as suas frases com palavras-chave que serão citadas ao longo de todo o discurso, para que o aluno ouça e assimile o vocabulário mais importante ao longo das aulas de matemática.
Trabalhar a concentração e motivação
Faça pausas constantes. Tanto a concentração como o facto de ficarem muito tempo sentado são situações difíceis para os disléxicos. Os alunos com dislexia sentem uma maior necessidade de se movimentar, de variar os tipos de atividade, portanto alterne as estratégias e prática de forma regular, acrescentando exercícios novos e diferentes.
Como mencionamos, a dislexia é apenas uma dificuldade de aprendizagem. Depois de as dificuldades serem superadas, o aluno pode progredir rapidamente em todas as disciplinas, incluindo na matemática. É necessário que saiba quais são todas as suas capacidades e o quão longe pode chegar!
Ter o apoio necessário
As pessoas com dislexia podem ter limitações nas questões da memória, principalmente a curto prazo. Por isso, é importante que os alunos nessa situação recebam material de apoio (com recursos visuais, se possível) que contenha um resumo do programa curricular do curso, do capítulo ou da matéria que estão a trabalhar no momento.
Use e abuse das referências visuais como os asteriscos, as enumerações, as listas, tudo o que permita colocar em evidência a informação mais importante.
Trabalhar com organização e estrutura
Para ensinar matemática a uma criança ou jovem disléxico, precisa de a ajudar a organizar-se e a estruturar os seus estudos fora das aulas. Durante o curso, vai precisar de criar aquilo a que chamamos modelos de organização, e estimular o aluno a utilizar essa mesma organização em casa, na sua rotina diária.
Por exemplo:
- Utilize pastas coloridas para diferenciar os conteúdos e os capítulos. Isto ajuda o aluno a encontrar rapidamente aquilo que procura. Utilize uma cor para cada pasta;
- Respeite um plano diário: os disléxicos podem sentir dificuldades a planear a curto e médio prazo, portanto estabeleça um cronograma diário para que o aluno saiba como se preparar. Se for professor particular, deixe o plano à vista no quarto do estudante, se for professor numa escola, deixe-o na sala de aula para que o possa consultar regularmente;
- Incentive a criança para que utilize um caderno de exercícios ou um caderno específico para fazer anotações. O ideal é que utilize esse material diariamente para realizar exercícios e tirar notas no decorrer das aulas.
Além disto, relembre sempre o aluno que estudar matemática em casa também é uma boa forma de reforçar o que foi aprendido nas aulas.
Procurar outros materiais de apoio
Quanto mais pesquisar e utilizar fontes e materiais de apoio diversificados, mas ricas serão as suas aulas. Se possível, converse com os outros professores do seu aluno, para que possam partilhar ideias e materiais. O estudante precisa desse apoio para aprender as matérias todas as disciplinas.
Além disso, é importante dar ao aluno a oportunidade de se expressar e de partilhar o que aprendeu com outros estudantes.
Se tiver dúvidas ou a criança continuar com muitas dificuldades na leitura e a completar um exercício matemático simples, procure um especialista e faça de tudo para que o estudante se integre bem na turma.
Hoje em dia existem diversas novas tecnologias que são apropriadas para o ensino de várias disciplinas, incluindo matemática: jogos, aplicações de texto e de gráficos, programas com comando vocal ou de gravação de voz. Pode utilizar opções como:
- Softwares de leitura em voz alta: utilize programas de leitura que leem o texto em voz alta para os alunos, ajudando a superar as suas dificuldades de leitura. Já existem programas específicos projetados para leitura de fórmulas matemáticas;
- Aplicações e brincadeiras educativas: várias aplicações e jogos educativos foram desenvolvidos para tornar aprender a matemática um processo mais envolvente e acessível. Estes costumam incluir elementos visuais e interativos que ajudam os alunos a compreenderem conceitos matemáticos;
- Tecnologias de realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA): as tecnologias RV e RA podem ser utilizadas para criar ambientes de educação imersivos que permitem aos alunos explorar conceitos matemáticos de forma representativa e prática;
- Aplicações de anotações e gravação de áudio: as ferramentas de anotação digital permitem que os alunos façam anotações diretamente nos dispositivos, facilitando a organização e revisão de informações. Além disso, gravar aulas ou instruções em áudio pode ser útil para permitir que os alunos revejam o conteúdo ao seu próprio ritmo depois da aula;
- Softwares de matemática assistida por computador: estes softwares podem gerar exercícios matemáticos personalizados, fornecer feedback instantâneo e adaptar o nível de dificuldade de acordo com o progresso do aluno;
- Calculadoras gráficas: as calculadoras gráficas podem ser particularmente úteis para os alunos disléxicos, uma vez que fornecem uma representação física das operações matemáticas;
- Fontes especiais: utilize fontes especiais desenvolvidas para pessoas com dislexia, como a "OpenDyslexic", que torna o texto mais legível;
- Softwares de reconhecimento de voz: os alunos com dislexia podem beneficiar da utilização de softwares de reconhecimento de voz para facilitar a escrita e memorização de informações.
Nas últimas décadas, houve um aumento significativo na conscientização e aceitação da dislexia. Os vários esforços de advocacia têm contribuído para uma compreensão mais ampla da perturbação.
Atenção: ensine os alunos a utilizar todos os recursos que adicionar às suas aulas, incluindo os recursos de acessibilidade disponíveis nos dispositivos, como o leitor de tela e as configurações de contraste.
E os recursos a que tem acesso na escola tradicional também funcionam! Existem inúmeros livros especializados em matemática que podem auxiliar no processo. O ideal é conjugar ambos os recursos para conseguir o máximo de exercícios para utilizar no ensino.
Exercícios matemáticos indicados para alunos disléxicos
Existem algumas atividades de matemática adaptadas que ajudam a trabalhar com alunos disléxicos, porque abordam as dificuldades de leitura e escrita, enquanto promovem a compreensão dos conceitos matemáticos.
Deixamos alguns exemplos, sinta-se à vontade de os utilizar!

Atividades com materiais manipulativos matemáticos
Utilize blocos, ábacos, quebra-cabeças e outros materiais manipulativos para ensinar conceitos matemáticos. Este tipo de exercício permite que os alunos interajam fisicamente com os conceitos, o que pode ser mais eficaz do que a simples leitura de um problema.
Desenhos
Peça aos alunos para desenhar representações visuais dos problemas matemáticos que estão a aprender. Diagramas, gráficos e ilustrações podem auxiliar bastante na compreensão de conceitos.
Exercícios de contagem
Para praticar as capacidades de contagem de números e sequências numerárias, peça aos alunos que criem padrões utilizando blocos coloridos ou outros elementos semelhantes.
Resolução de exercícios em grupo
Ao colocar os alunos em pequenos grupos promove a colaboração entre todos e permite que discutam e expressem as suas ideias oralmente, o que pode ser menos intimidante do que as escrever.
Dicas para dar aulas de matemática a alunos disléxicos
Ensinar matemática a alunos que possuem dislexia não é tarefa fácil. É preciso estar preparado, ter recursos especializados, ter um profissional capacitado.
O educador certamente terá que se dedicar bastante, mas os resultados são eficazes. É precisamente por esse motivo que, além das competências nas ciências matemáticas, é crucial ter apoio especializado e profissionais de qualidade.

Mas existem coisas que pode fazer sem necessidade de outros profissionais, como:
- Nunca peça ao aluno para copiar palavras como recurso de memorização;
- No início de cada aula, tire uns minutos para relembrar os tópicos da aula anterior:
- Divida as explicações em blocos: se apresentar conteúdos muito longos, corre o risco do estudante perder a concentração. E utilize sempre recursos visuais;
- Use e abuse das cores: como mencionamos, a cor é uma ferramenta muito eficaz para a memorização. Oriente os alunos para que sublinhem ou coloquem em negrito as palavras-chave, para dar mais ênfase e destaque às matérias essenciais;
- Reveja com frequência tópicos ensinados em aulas anteriores para consolidar tudo o que foi aprendido;
- Redistribua os trabalhos de casa: em vez de estudar três teoremas em 15 dias, dê ao aluno apenas um teorema a cada semana, para que os conceitos sejam assimilados de forma eficaz;
- Disponibilize os materiais de leitura, como livros didáticos e notas de aula, em formato digital, para que os alunos possam utilizar ferramentas de leitura em voz alta e ajustar o tamanho da fonte;
- Para que o aluno disléxico aprenda matemática como maior facilidade, para o ajudar nas questões de memorização, para que consiga ilustrar os números através de gráficos e desenhos, é fundamental que faça as suas próprias anotações. As anotações, se forem feitas à sua maneira, ajudam muito na memorização;
- No final de cada aula, escreva os pontos essenciais de forma simples e com palavras-chave no quadro ou noutro suporte visual. O objetivo é resumir o essencial dessa aula em noções que podem ser facilmente guardadas e memorizadas.
E outra dica: não perca a paciência se a criança falar muito rápido, porque a dislexia faz com que a sua compreensão do mundo seja muito mais visual. Por isso, os seus pensamentos são rápidos e as palavras podem ser rápidas e precipitadas.
A dislexia não é uma representação de falta de inteligência. Várias pessoas com dislexia são altamente inteligentes e criativas.
Quanto maior suporte visual der ao aluno disléxico, mais potencializa as suas capacidades de compreensão e retenção. Uma sugestão: o aluno pode realizar as tarefas e os exercícios em papel quadriculado ou papel com linhas, porque os traços auxiliam na orientação de certos desenhos, gráficos e até algumas equações e problemas. Ou então: que tal escrever em preto numa folha colorida, como o amarelo? Isto torna mais fácil identificar símbolos e letras e pode ser um exercício mais divertido para as crianças, longe da aborrecida caneta azul em papel branco.
Sabia que existem estudos sobre a hipótese de o género da criança influenciar a aprendizagem de matemática?
Último conselho: saber articular e demonstrar empatia
Atrevemo-nos a diz que, mais importante do que o tipo de estratégias e metodologias que utiliza, é que tenha sempre empatia, respeito e paciência. Articule de forma clara, dê exemplos concretos em cada explicação, incentive os alunos durante cada exercício e atividade, e reconheça os seus progressos como as vitórias que são!
Também pode ensinar técnicas para que o aluno seja capaz de realizar uma autoavaliação. Evite noções, conceitos e palavras muito complicadas. Evite também conceitos muito abstratos ou explicações sem ilustrações concretas e reais.

A verdade é que não existem receitas ou fórmulas prontas para lidar com a educação de alunos com dislexia. Mas a prática é sempre a melhor solução para que os estudantes progridam nos seus estudos. Entenda a realidade dos seus alunos e como é o seu dia a dia. A dedicação e o investimento valem muito a pena! Os resultados vão aparecer quando menos esperar.
E se quiser aumentar o seu leque de alunos, também pode optar por dar um curso de matemática online. A plataforma da Superprof possui diversos professores especializados neste tipo de ensino e pode ser um deles!
Adorei, vai ajudar muito meu filho obrigada, pena que a escola que ele estuda não é equipada para atende-lo :-)