Quando pensamos nos períodos mais importantes da história, passado ou presente, é normal imaginarmos guerras e eventos semelhantes. Mas os movimentos sociais e culturais também são importantes e tem impacto político, cultural e social na história. E o feminismo é um deles.
Por este motivo, é uma matéria que está presente nas aulas de história do ensino básico, nas aulas de história A do ensino secundário e nas aulas dos cursos de história do ensino superior. Independentemente da fase da educação em que o aluno se encontre ou da escola que frequente, o feminismo é uma matéria que está sempre presente na sua formação. Seja para explicar como as diferentes atividades feministas afetaram a história, cultura e sociedade dos países do mundo, como cada guerra influenciou o tipo de conhecimento, educação e independência que eram permitidos às mulheres ou apenas como as ações do passado afetam o presente, os alunos ouvem dos professores várias informações sobre o processo do movimento feminista ao longo do seu percurso no ensino.
Para ajudar os alunos com a sua formação e a ter boas notas na escola, e todos aqueles que apenas têm interesse nesta matéria e período histórico, criamos este artigo com as informações mais importantes do feminismo, em específico sobre a sua terceira onda e ainda o que podemos esperar do futuro do movimento.
As origens da terceira onda do feminismo
A terceira onda do feminismo começou no início da década de 1990, como resposta ao que as feministas consideravam ser falhas da segunda onda do movimento e como uma retaliação a certas iniciativas e movimentos criados durante essa época. O feminismo da terceira onda tinha como objetivo desafiar aquilo que considerava as definições essencialistas do feminismo feitas pela segunda onda, que colocava demasiado ênfase nas experiências das mulheres brancas de classe média-alta.

Uma questão essencial para as feministas desta onda é a perceção de que as mulheres são de muitas cores, etnias, nacionalidades, religiões, e origens culturais. Como tal, uma grande parte desta onda é também as feministas de cor a tentar encontrar um espaço dentro da esfera feminista para a consideração de subjetividades relacionadas à raça.
Esta onda do feminismo expandiu a luta feminista para também incluir os obstáculos de grupos diversificados de mulheres com um conjunto de identidades variadas. As feministas deste período queriam abolir todas as expectativas e estereótipos baseadas em género, incluindo as que tinham sido perpetuadas por outros elementos do movimento. Desta forma, a ideologia da terceira onda é uma interpretação pós-estruturalista do género e da sexualidade.
Ao contrário da posição das feministas das ondas anteriores, as sufragistas da terceira onda são bastante ambíguas e complexas em relação ao papel das mulheres na pornografia, trabalho sexual e prostituição. Considerando que as mulheres devem ter a liberdade de escolher se querem trabalhar nestas áreas, o objetivo era celebrar o empoderamento e independência da mulher e abandonar a ideologia das mulheres como eternas vítimas, como acontecia até aí.
O objetivo desta onda era que as mulheres pudessem definir o feminismo para si, incorporando as suas próprias identidades no sistema de crenças que é o feminismo, com a noção que este se pode transformar através da perspetiva individual. As vitórias conquistadas desde as origens do movimento até aqui permitiram alcançar diversos direitos legais e institucionais, mas as feministas deste período consideravam que era necessário haver mais mudanças nos estereótipos, na forma como as mulheres são retratadas nos meios de comunicação e na linguagem utilizada para as definir.
O termo terceira onda do feminismo foi adotado por Rebecca Walker, num ensaio em 1992. Esta feminista foi um verdadeiro símbolo deste período e representava o foco do movimento em diferentes sexualidades e etnias.
Eventos da terceira onda em Portugal
Durante a primeira onda do movimento, Portugal viveu uma verdadeira época de empoderamento feminino. No entanto, os anos que se seguiram trouxeram um regime autoritário e, durante a terceira onda do feminismo, o país ainda estava a recuperar deste acontecimento.

Depois do final da ditadura, deu-se uma profunda alteração sistémica na sociedade portuguesa, com a consagração de variados direitos sociais, económicos e políticos. Aqui, foram abolidas todas as anteriores restrições baseadas no sexo, permitindo às mulheres o acesso a todas as carreiras profissionais que antes eram proibidas e o direito ao voto universal, assim como variados direitos civis, legais e laborais.
Anos mais tarde, em 2004, várias feministas, ativistas e investigadoras portuguesas de diversos sectores reuniram-se para comemorar o 80º aniversário do 1º congresso do movimento feminista no país, organizado, na altura, pelo extinto Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. No evento discutiram-se questões como o aborto, a sexualidade e o direito ao próprio corpo, a desigualdade entre homens e mulheres em sectores como o do trabalho e outros temas feministas. Este congresso em Lisboa e durante os três dias da comemoração foram homenageadas diversas mulheres importantes para a obtenção dos direitos das mulheres no país.
Em 2014 o movimento feminista renasceu com algum impacto no país, através da criação da plataforma Capazes (anteriormente Maria Capaz), que contava com a participação de dezenas de figuras públicas nacionais e se assumia como uma associação abertamente de luta pelas mulheres.
O feminismo continua a ser necessário?
O maior desafio para do movimento feminista hoje em dia é, sem dúvida, o declínio do apoio popular à relevância e importância do feminismo, naquilo que se considera ser a era "pós-feminista". Há quem considere, erradamente, que a igualdade de género já foi alcançada e que novas tentativas de lutar para os direitos das mulheres são irrelevantes e desnecessárias. Ou então, que o movimento feminista quer aumentar os direitos das mulheres para ganhar vantagem sobre os homens, numa exageração do estado das mulheres na sociedade ocidental moderna.

Esta questão é debatida constantemente quando existem novas iniciativas de ação afirmativa, num debate se o objetivo é criar a igualdade de género da sociedade ou prejudicar os homens brancos, de classe média-alta, por uma história biológica que simplesmente herdaram. Tudo isto perpétua a noção de que o feminismo já não é necessários e que as feministas de hoje em dia são radicais. Os meios de comunicação desempenham um enorme papel na divulgação desta mensagem e da imagem da radicalidade.
No entanto, o feminismo é, por definição, caracterizado pela sua pluralidade e está em constante transformação. A desigualdade de género é estrutural e milenar, e reflete-se em todos os aspetos da vida social, desde a política, o mercado de trabalho até o ambiente doméstico. E todos estes campos continuam a representar uma desigualdade para as mulheres.
A representatividade política ainda deixa muito a desejar. Apesar de o voto feminino já ter sido conquistado na grande maioria dos países do mundo, a presença de mulheres em cargos eletivos ainda é pequena e existe uma sub-representação deste grupo nos parlamentos e governos. Em Portugal, atualmente apenas 37% dos elementos parlamentares eleitos são mulheres e apenas tivemos uma primeira-ministra ( Maria de Lourdes Pintasilgo).
Da mesma forma, no mercado de trabalho ainda existem poucas mulheres em posições de chefia, especialmente nas grandes empresas. Além disso, a média salarial das mulheres continua menor que a média salarial dos homens no desempenho das mesmas funções, apenas 78% de acordo com a OCDE, e a condição de mãe é frequentemente utilizada pelos empregadores como justificação para demissões ou não renovações de contrato (ainda que a lei preveja que isso é ilegal).
No ambiente doméstico, o trabalho continua a ser maioritariamente delegado às mulheres, mesmo que trabalhem a tempo inteiro e contribuam financeiramente para as despesas da família. O mesmo acontece no que diz respeito ao cuidado dos filhos e à tomada de decisões relacionados com eles (seja na saúde ou na escola). Além disso, três quartos do trabalho de cuidado não remunerado no mundo é realizado por mulheres.
E a violência contra as mulheres marca todos os ambientes que mencionamos (públicos, laborais e domésticos), na forma de assédio e violência física e sexual. Apesar de todas as conquistas do movimento feminista, a violência doméstica e o femicídio continua a aumentar todos os anos. De acordo com o Observatório das Mulheres Assassinadas, este ano houve uma média de mais de três mulheres assassinadas por mês, sendo que em alguns meses uma mulher foi morta a cada cinco dias.
Todos estes campos demonstram que o feminismo ainda tem muito caminho a percorrer! E com o regresso nas leis de alguns países (como a decisão de reverter Roe v. Wade nos EUA, por exemplo), é possível que o futuro seja bem mais negro do que se imaginava…