Python é uma das linguagens mais utilizadas em desenvolvimento de software em Portugal, especialmente nas áreas de inteligência artificial, ciência de dados, automação, backend web, fintech, e ainda em empresas de consultoria que trabalham com projetos nacionais e internacionais.
Neste artigo vamos ver empresas portuguesas e multinacionais presentes em Portugal que utilizam Python, que tipos de projetos concretos têm em curso ou já realizaram e os sectores em que Python é uma tecnologia estratégica.
Empresas portuguesas que utilizam Python
Estas são algumas das empresas nacionais mais conhecidas que utilizam Python, seja em investigação, produto, ou serviços.
Feedzai
A Feedzai, sediada em Coimbra, especializada em ciência de dados e machine learning para detetar fraudes financeiras em transações em tempo real, é um dos exemplos mais fortes.

O produto da Feedzai baseia-se em analisar volumes grandes de dados transacionais e detetar padrões de comportamento atípico ou fraudulento.
Python é uma das linguagens usadas em componentes de análise de dados, protótipos, modelos de aprendizado de máquina e integração desses modelos em produção.
Unbabel
A Unbabel é uma tech portuguesa de tradução automática assistida por humanos (human-in-the-loop). Têm projetos de investigação e produto que utilizam machine learning, modelos de tradução automática, análise de sentimentos, sugestão automática de respostas, entre outros. Um bom exemplo é o projeto MAIA (Multilingual AI Agent Assistants), onde Python é fundamental, desde o processamento de dados linguísticos, modelos de tradução automática, análises de contexto, até à integração de agentes de IA no apoio ao cliente.
Integer Consulting
A Integer Consulting é uma empresa portuguesa de consultoria de tecnologias de informação que faz outsourcing, desenvolvimento à medida e projetos nearshore. A linguagem Python está integrada nos seus projetos internos e para clientes, muitas vezes com componentes de IA ou serviço/automação.
Imaginary Cloud
Imaginary Cloud é uma empresa portuguesa que trabalha em desenvolvimento de software, produto digital, design. Os seus projetos de backends, APIs e produto digital usam Python para micro serviços, scripts, automação, integração com dados, etc.
Automaise
A Automaise é uma empresa portuguesa fundada em Braga, com foco em automatização, inteligência artificial e plataformas low-/no-code, com aplicação em vários sectores: banca, seguros, telecomunicações, transportes, logística, retalho.
Um dos seus produtos recentes é o Quokka, um modelo linguístico de grande escala (LLM) para automação do atendimento ao cliente.
Critical Software
A Critical Software, empresa com sede em Coimbra, Lisboa e outras localidades entre Portugal e no estrangeiro, especializada em soluções com requisitos fortes de fiabilidade, sistemas embebidos, infra-estruturas críticas, segurança, telecomunicações, e software empresarial. Em muitos dos seus projectos, especialmente os relacionados com business intelligence, sistemas críticos, automatização de dados ou análise, utilizam Python para os componentes de análise de dados, prototipagem, scripts ou integração.
Multinacionais ou empresas internacionais com operações em Portugal que utilizam Python
Além das empresas portuguesas, há muitas empresas multinacionais ou com sedes estrangeiras que operam em Portugal e utilizam Python em vários projetos, quer internos, quer para clientes.
Farfetch
A Farfetch, embora seja uma empresa de moda de luxo global com impacto em muitos países, tem operações de engenharia muito fortes em Portugal.

A empresa lançou o projeto iFetch que tem como objetivo desenvolver agentes de conversação online (chatbots multimodais) para melhorar a experiência do cliente no e-commerce, com equipas de investigação e universidades portuguesas como parceiras.
A Farfetch desenvolveu uma knowledge graph de moda (Fashion Knowledge Graph) onde se aplicam modelos de NLP, reconhecimento de entidades, ligação de entidades (entity linking) a partir de descrições de produtos, tarefas típicas de data science/NLP que usam Python.
Grupo DATA
O Grupo DATA é uma multinacional com atividade em Portugal, que frequentemente publica vagas para Python Developer. Trabalham com soluções de TI corporativas, plataformas digitais, automações, integrações de dados e, possivelmente, análises de dados ou funcionalidades de IA.
Sectores onde Python é mais utilizado em Portugal
Embora existam inúmeros sectores onde a linguagem Python é utilizada, há alguns onde é particularmente relevante em Portugal. São eles:
- Fintech/serviços financeiros: exemplos claros são a;Feedzai (fraude, risco), empresas fintech portuguesas ou consultoras que fazem soluções de crédito, pagamentos, análise de transações.
- Tradução automática, NLP e assistentes de linguagem: Unbabel, Automaise, ferramentas open source (como o smaug), etc;
- E-commerce/retalho de luxo: Farfetch, com projetos iFetch, knowledge graph, etc;
- Consultoria tecnológica/TI customizada: Integer Consulting, Babel, Grupo DATA, etc., que prestam serviços a múltiplos sectores e clientes internacionais;
- Automação/atendimento ao cliente: Automaise, chatbots, agentes conversacionais multilingues, assistência automática/humana combinada;
- Investigação/academia-industria: projetos colaborativos entre empresas portuguesas e universidades (ex: Farfetch com NOVA LINCS/IST) para IA, agentes conversacionais multimodais; casos de utilização de EuroCC e centros HPC para modelagem, previsão ambiental etc.
Sabe qual é o salário médio de um programador Python?
Exemplos de projetos de destaque com Python em Portugal
Para mostrar como Python se aplica realmente nos projetos, é essencial ver exemplos reais.

Estes são alguns dos exemplos que encontra no país:
- MAIA da Unbabel: assistentes de IA multilíngues para apoio a clientes, tradução automática, sugestão de respostas, análise de sentimentos. Consiste em um departamento de I&DT que abrange desde gestão de dados, investigação até produto;
- iFetch da Farfetch: agentes de conversação multimodais para e-commerce, com uso de IA e interfaces naturais, comunicação verbal + visual, etc. Envolvimento académico com IST e NOVA;
- Fashion Knowledge Graph da Farfetch: enriquecimento de grafos de conhecimento a partir de descrições de produtos, com reconhecimento de entidades, ligação de entidades, utilização de técnicas de NLP;
- smaug da Unbabel: biblioteca Python open source para augmentação de dados em tarefas multilíngues, usada para melhorar modelos de NLP;
- Quokka da Automaise: modelo linguístico de grande escala para automação no atendimento ao cliente.
Desafios e oportunidades para empresas que usam Python em Portugal
Além de saber quem utiliza a linguagem, também é importante refletir sobre quais são os desafios que estas empresas enfrentam, e onde ficam as oportunidades.
Ter este conhecimento pode ajudar a entender porque razões é que a linguagem Python está a ser adotada por estas empresas e que futuro pode ter.
São elas:
- Talento especializado: embora existam muitos programadores Python em Portugal, há procura crescente por perfis que combinam Python + ML/NLP e experiência em deployment/cloud/MLOps. As empresas como Unbabel e Farfetch esperam essas competências. A escassez (ou a necessidade de formação interna) pode ser um gargalo;
- Infraestrutura e produção de modelos: desenvolver modelos de IA é só parte do desafio, integrá-los em produção, garantir latência aceitável, fiabilidade, monitorização, escalabilidade, versionamento de modelos são tarefas complexas. Python facilita essas tarefas com bibliotecas e frameworks, mas as empresas precisam de boas práticas e investimento em MLOps.
- Parcerias academia-indústria: vários projetos mostram que parcerias com universidades portuguesas ou centros de I&D trazem inovação e permitem desenvolver tecnologia de ponta. Há oportunidades de cofinanciamento e incentivos públicos;
- Crescimento internacional: muitas empresas portuguesas que usam Python operam ou vendem para fora de Portugal. Isto obriga a que os sistemas sejam robustos, sensíveis a performance, escalabilidade e segurança. Python ajuda neste sentido, mas também impõe escolhas técnicas (que frameworks, que arquitetura) que garantam sustentabilidade;
- Regulação, privacidade e ética: setores como finanças, saúde ou atendimento ao cliente têm requisitos legais de privacidade, segurança (GDPR). Os projetos de IA ou de análise de dados precisam de incorporar estes requisitos (validação, auditoria, explicabilidade, segurança nos modelos). Python permite prototipagem rápida, mas também exige disciplina para garantir compliance no código de produção.
Perspetiva futura
Tendo em conta o panorama atual, podemos antever que a utilização de Python continuará a crescer em Portugal.

Especialmente nos seguintes eixos:
- IA Generativa/modelos de linguagem grandes (LLMs): empresas de tradução, atendimento ao cliente, automação, retalho e suporte técnico tenderão a explorar mais aplicações generativas. Python é a linguagem de eleição para protótipos, treino e pipelines;
- Data platforms e infraestrutura de dados: como as empresas crescem em volume de dados, a necessidade de pipelines robustos, ETL/ELT, streaming de dados, monitorização, logging, versionamento de modelos. Python + serviços cloud/containers/kubernetes/frameworks de orquestração vão continuar a ser muito usados;
- Instituições públicas, saúde e ambiente: predição de caudais de rios, monitorização ambiental, projetos de dados públicos ou governamentais que usem IA têm espaço para se expandir. Há já casos de uso via EuroCC Portugal;
- Automação de processos internos/low-code/no-code: empresas que “empurram” para que processos operacionais que eram manuais se tornem automatizados, com Python nos bastidores. Isto reduz custos operacionais e aumenta a produtividade.
No geral, Portugal tem um ecossistema tecnológico ativo e diversificado onde Python desempenha um papel central em muitas empresas, desde startups a empresas nacionais consolidadas, bem como multinacionais com operações de engenharia/natureza técnica em território português.
Setores como fintech, tradução automática, IA, e-commerce, consultoria/desenvolvimento à medida são os que mais frequentemente utilizam Python.
Para quem trabalha com Python em Portugal ou está a pensar entrar neste mercado, as oportunidades são boas, mas não isentas de desafios, sobretudo em relação à necessidade de competências em produção de modelos, em infraestrutura, em escalar sistemas robustos e em garantir conformidade legal e segurança. Mas o ecossistema está amadurecido, com talento, empresas, instituições de investigação, investimento público/privado e cada vez mais uma cultura de inovação. Por isso, não perca a oportunidade de trabalhar nele!