Qualquer época da nossa história é importante, mas algumas delas têm um impacto maior que outras. O movimento feminista, em particular, teve um grande impacto no desenvolvimento da sociedade do país e continua a ser importante hoje em dia. E é por este motivo que é um conteúdo que é comumente incluído nas aulas de cursos de história e geografia.
Os alunos ficam a conhecer este período da história nas aulas de história do ensino básico, nas aulas de história ou história A do ensino secundário e, claro, num curso do ensino superior na área da história ou das ciências sociais. Em qualquer uma destas opções de formação, esta época está incluída no estudo. Mas se tem dificuldade em manter a atenção durante as aulas de história, precisa de ajuda com os estudos ou simplesmente tem interesse em conhecer melhor este conteúdo não se preocupe! Não é preciso querer fazer um curso superior numa faculdade para saber mais sobre este assunto.
Para todos esses alunos interessados, seguem-se algumas informações sobre o início do movimento sufragista e os eventos mais importantes do período que é considerado a sua primeira onda.
Quando se deu a primeira onda do feminismo?
A primeira onda do feminismo refere-se a um período de atividade feminista durante o século XIX e início do século XX em vários países do mundo, como o Reino Unido, Canadá, França e Estados Unidos. Esta onda tinha, inicialmente, o objetivo de promover a igualdade dos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres. No entanto, no final do século XIX, passou a focar-se principalmente na conquista de poder político, especialmente o direito ao voto.
O foco no voto feminino durante esta época da história do movimento deve-se, em parte, ao facto de ser uma questão comum a todas as mulheres. O movimento era formado tanto por mulheres de classe alta que queriam ter igualdade com os homens da mesma classe, por mulheres de classe média que queriam ter uma educação formal e científica e bons empregos, e mulheres operárias com péssimas condições de trabalho, salários baixos e sobrecarga de trabalho que queriam ter melhores condições de emprego.
Aquilo que todas tinham em comum era o facto de não poderem votar para melhorar as suas condições. E como uma mudança na lei era a única forma de conseguirem alcançar os objetivos de cada grupo, o voto ganhou uma dimensão maior. Desta forma, a igualdade jurídica dependia da igualdade política, e reivindicações como educação, direito à posse e ao divórcio estavam ligadas à luta pelo direito ao voto. Mesmo com o foco neste assunto, as feministas também faziam campanhas pelos direitos sexuais, reprodutivos e económicos das mulheres.
O termo "primeira onda" foi adotado em 1968 por Marsha Lear na The New York Times Magazine.
Os eventos da primeira onda pelo mundo
Ao contrário do que iria acontecer nos anos seguintes, a primeira onda não tinha grande foco nos direitos reprodutivos das mulheres, incluindo o direito ao aborto. Ainda assim, alguns dos nomes mais influentes do movimento já se pronunciavam sobre o assunto, principalmente sobre as violações no casamento, que não eram consideradas crime. Já nesta altura, as feministas consideravam que a mulher tinha o total direito ao seu corpo e que poderia utilizar a abstinência como método contracetivo (para prevenir gravidezes inesperadas). Na opinião de algumas, não bastava tentar descriminalizar o aborto, era também necessário abordar a causa principal porque estes existiam.

Mas como já mencionamos, o ponto principal desta onda era o direito ao voto, e este objetivo sentiu-se em todas as vertentes do movimento pelo mundo fora. Nos Estados Unidos, as sufragistas americanas lutavam em diferentes movimentos abolicionistas, com líderes como Lucretia Mott, Elizabeth Cady Stanton, Lucy Stone e Susan B. Anthony, que tinham já trabalhado para a abolição da escravidão, antes de defender o direito das mulheres ao voto.
Em 1848, Mott e Stanton organizaram a primeira Convenção dos Direitos das Mulheres, em Nova Iorque. Uns anos mais tarde, em 1869, as líderes feministas criaram a National Woman Suffrage Association e a American Woman Suffrage Association. Em 1890, decidiram combinar ambas, e fundou-se a National American Woman Association. Todas elas trabalhavam para conseguir o direito de voto das mulheres e finalmente conseguiram algumas vitórias nos estados de Wyoming (em 1869) do Colorado (em 1893), no Utah e em Idaho (1896) e em Washington (em 1910).
Considera-se que a primeira onda do feminismo nos Estados Unidos terminou com a aprovação da Décima Nona Emenda à Constituição dos Estados Unidos, em 1919, que concedeu às mulheres o direito ao voto em todos os estados.
No Reino Unido, as sufragistas também faziam campanha pelo voto feminino. Em 1903, sob a liderança de Emmeline Pankhurst, foi criada a União Política e Social das Mulheres, a WSPU (Women Social e Political Union). O seu objetivo principal era pressionar o parlamento e despertar a opinião pública para o direito do voto feminino. As sufragistas angariavam dinheiro para financiar a impressão de jornais e panfletos, para partilhar o seu movimento e defender a sua causa.
Mas as ações pacificas tiverem pouco efeito e o movimento tornou-se mais radical. A partir de 1909, passaram a ser utilizadas greves de fome, depredação de patrimônio público e até uso de bombas como forma de pressão. Finalmente, em 1918, o Representation of the People Act foi aprovado, e as mulheres acima de 30 anos de idade que possuíssem uma ou mais casas passaram a ter o direito ao voto. Em 1928, este direito foi estendido à todas as mulheres acima de 21 anos de idade.
História da primeira onda em Portugal
Com o virar do século, nos últimos anos da Monarquia Portuguesa, deu-se um dos mais importantes marcos do movimento feminista em Portugal: a fundação do Grupo Português de Estudos Feministas. Esta associação, fundada em 1907, incluía intelectuais, médicas, escritoras, jornalistas e professoras, e tinha o objetivo de difundir os ideais da emancipação feminina.

Infelizmente, teve um curto período de existência, mas levou a um dos mais importantes movimentos portugueses: a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP). A LRMP reivindicava o direito ao voto, à instrução e educação, ao trabalho, à administração dos bens e à lei do divórcio, com ênfase nos direitos laborais e jurídicos das mulheres. Além disso, também realizava campanhas para combater e condenar o femicídio, a violência doméstica, a prostituição, o proxenetismo e a mendicidade infantil.
Depois da implementação da Primeira República Portuguesa, as sufragistas da LRMP apresentarem duas petições ao governo provisório, pedindo a aprovação da lei do divórcio e o direito ao voto para as mulheres (mas apenas para as mulheres que pagassem impostos, fossem maiores de idade e pertencessem à elite intelectual). Este último fator não agradou a todos os elementos do movimento feminista. Mas não houve qualquer alteração do código eleitoral e o voto continuou a ser exclusivo aos cidadãos portugueses do sexo masculino.
Com a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, várias mulheres republicanas, monárquicas, feministas, sindicalistas e conservadoras uniram-se pela primeira vez com o objetivo de mobilizar as mulheres para o esforço de guerra e auxiliar os soldados enviados para a frente de combate. Neste âmbito, criaram-se os primeiros cursos de formação de enfermagem e de outras áreas profissionais para desenvolver as capacidades profissionais das mulheres, de forma a poderem obter a tão desejada autonomia económica.
Após a guerra, numa nova era de empoderamento feminino, reuniu-se o I Congresso Feminista e de Educação em Lisboa, em 1924. Considerado o primeiro congresso feminista realizado no país, o evento teve um enorme impacto a nível nacional e internacional. Durante cinco dias, sob uma intensa cobertura jornalística, o evento apresentou 25 teses (17 delas de autoria feminina), e recebeu o apoio de várias organizações e personalidades com destaque no meio político e na vida intelectual ou cultural de Portugal. Devido ao seu sucesso, em 1928 foi realizado o II Congresso.

No entanto, o tempo de progresso foi pouco. Em 1933, com a implementação do Estado Novo, a formação ideológica e doutrinal feminina passou a ser a norma. Através de organizações como a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF) e o Movimento Nacional Feminino (MNF), o governo educava as mulheres segundo a sua doutrina para poderem desempenhar os papéis tradicionais na família que eram atribuídos ao seu género: os de filhas, esposas e mães dedicadas. Durante esta época, o campo de atuação da mulher deveria restringir-se apenas ao lar e à família, e o trabalho feminino passou a ser novamente restrito.
Esta reversão nos direitos das mulheres em Portugal leva a que as portuguesas só consigam alcançar o mesmo número de direitos que as mulheres dos restantes países quase na terceira onda do movimento, muito depois do esperado. Ainda assim, não desistindo de lutar pelos seus direitos, as feministas portuguesas recorreram durante estes anos a outras organizações ou associações que continuavam a trabalhar na reivindicação dos seus direitos!









