"A música, se faz sucesso ou não, não me interessa" - Georges Brassens
Já todos ouvimos dizer que, quem canta, seus males espanta! E esta expressão não se limita apenas ao canto, mas também para os instrumentos. A bateria, com certeza, está entre os mais alegres!
Quando pensamos num baterista, por exemplo, não pensamos em alguém reservado, calmo ou quieto, muito pelo contrário! Alguém hiperativo para conseguir tocar todos os pratos, tambores, e coordenar mãos e pés ao mesmo tempo. Ou seja, não basta ser hiperativo, também tem que possuir coordenação motora o suficiente para não trocar os pés pelas mãos…
A bateria, com certeza, é um instrumento que exige muito do músico. Mas tem inúmeras vantagens! Tal como outros instrumentos controla o tempo, e é o motor de qualquer banda ou grupo. Quando ouvimos os sons que produz, começamos logo a ensaiar alguns passos de dança, a abanar a cabeça ou a trautear a melodia. Uma coisa é certa: ninguém é insensível a uma boa música que ouve na rádio, num bar ou numa casa de espetáculos. E o ritmo é dado pelo baterista e o seu instrumento. Como um metrónomo vivo, este artista dá as chaves para outros instrumentos musicais: guitarra, baixo, saxofone, contrabaixo, sintetizadores, etc.

Mas sabe do que é feita uma bateria? Se a resposta é não, continue a ler para conhecer os elementos detalhados das baterias acústicas. E se quiser ir mais longe, porque não fazer aulas de bateria?
Os tambores da bateria
O primeiro elemento constituinte desde que a bateria foi inventada, os tambores são cilíndricos, abertos em ambos os lados e nos quais são esticadas peles retidas por círculos metálicos. É a caixa de som do instrumento. Originalmente, o tambor era feito de peles de animais, o que dificultava a afinação.
O bombo
Para tocar bateria com frequência é primeiro preciso saber como tocar o bombo. O bombo, ou bass drum em inglês, é o elemento mais imponente da bateria. É o tambor que tem o som mais grave. Regra geral, a frente do bombo está virada para o público, que é muitas vezes onde está impresso o nome da banda ou grupo.
As marcas por onde escolher são inúmeras: Ludwing, Odery, Tama… O bombo padrão tem 22 polegadas, mas é possível encontrar modelos maiores e menores. Quanto maior for, mais grave é o som. Tocamos o bombo com um pedal de pé direito para os destros e de pé esquerdo para os canhotos. É este elemento que marca os ritmos. No estilo metal, por exemplo, é possível encontrar duas baterias ou um pedal duplo, para aumentar a velocidade dos golpes do artista no bombo.
Os timbalões
Uma bateria padrão tem dois timbalões e um surdo:
- Um timbalão agudo ou alto,
- Um timbalão médio,
- Um surdo.
Estes são organizados por ordem, do maior para o menor, da esquerda para a direita para destros e vice-versa para canhotos. Os timbalões alto e médio são colocados acima do bombo, suspensos, enquanto o surdo é colocado mais abaixo. Como para o bombo, quanto menor o timbalão, mais agudo é. Quanto maior, mais grave soa. A profundidade do timbalão também influencia o som que vai dar. Os timbalões são compostos por duas peles: uma pele para bater e uma pele de ressonância mais fina que faz o som vibrar.
Elementos da bateria: a caixa
Para perceber a composição de um instrumento de percussão é necessário conhecer os elementos de uma bateria moderna! Aprender bateria também é aprender como funciona a caixa. Esta é um tambor horizontal raso, colocado entre as pernas do baterista, ligeiramente para a esquerda para os destros, ligeiramente para a direita para os canhotos. De madeira ou metal, produz o som mais agudo de todos os tambores. Possui duas peles, uma para golpear e outra para ressonância, mas também um selo: uma parte feita de vários metais, localizada sob a pele de ressonância. Esta dá um som ainda mais agudo. Em inglês, é a snare drum.

Existem vários tamanhos:
- Standard: com um diâmetro de 14 polegadas e uma profundidade entre 4,5 e 8 polegadas;
- Piccolo: com um diâmetro de 14 polegadas e uma profundidade entre 3 e 4 polegadas;
- Soprano: com um diâmetro entre 10 e 12 polegadas e uma profundidade entre 5 e 7 polegadas.
Este instrumento de percussão possui sonoridades únicas, permitindo que gere o som da bateria como um todo.
Para mudar o som da bateria, temos que falar sobre os diferentes pratos que a compõem.
Os pratos da bateria
Numa loja de instrumentos musicais, também terá que escolher pratos para constituir a sua bateria de percussão. Os pratos trazem cor e delicadeza ao estilo do baterista. Cada um tem a seu própria sonoridade, reconhecível por milhares de conhecedores. E pode colocar quantos pratos quiser!
De choque
O prato de choque é composto por dois pratos virados um sobre o outro e operados por um pedal. Mede entre 10 e 15 polegadas. Está normalmente localizado à esquerda para um destro e à direita para um canhoto, e é utilizado pelo artista para marcar a base de uma música, o ritmo. Pode ser utilizado em diferentes posições, modulando, assim, o som: fechado, aberto ou meio aberto.
De condução
O prato de condução pode substituir o modelo anterior para marcar os ritmos. Existe em versão com ou sem cúpula (plano) e com rebites. Mede entre 18 e 24 polegadas. Pode ser tocado com a bolinha da baqueta, com a ponta da baqueta (correndo o risco de a partir) para uma sonoridade mais redonda. Geralmente é posicionado à direita do baterista.
De ataque
Muito mais fino que o de anterior, o prato de ataque é utilizado para acentuar batidas ou trazer uma nova medida. Mede entre 14 e 18 polegadas e está normalmente posicionado à esquerda do artista.
Splash
Mais pequeno do que os dois modelos anteriores, também tem o nome do ruído que provoca. Mede entre 6 e 10 polegadas e é mais raro ser utilizado pelos bateristas.
Outros pratos
Existem muitos outros pratos loucos que permitem obter sons diferentes. Pratos com buracos, sinos, octogonal… A imaginação é mesmo o limite!
Acessórios para a bateria
Estes elementos só têm o nome de acessórios porque, na realidade, se não forem de boa qualidade, a sua bateria não vai longe!

Pedais
O pedal do bombo tem, normalmente, uma corrente dupla com um bastão de feltro que atinge a pele do bumbo. O duplo é tocado com os dois pés e tem dois bastões para dobrar a velocidade da batida. O de prato de choque permite abrir ou fechar os dois pratos para modular o som obtido.
Pés
Os pés são normalmente colocados na parte inferior dos tripés para maior estabilidade. Os pés do timbalão e da caixa são compostos por três ramos que dão acesso ao que se encontram na parte superior. Por último, os suportes dos pratos são retos ou em forma de bastão para os posicionar na altura indicada.
Banco
Alguns bateristas tocam em pé, mas a maioria fica sentado. O banco da bateria tem três pés para garantir uma grande estabilidade. É feito de espuma para evitar lesões, especialmente se o artista tiver tendência a "saltar" no calor do momento. Mas atenção que não quer dizer que precise de utilizar um banco, deve descobrir qual é a posição que prefere para tocar.
Bateria: uma composição universal, mas também pessoal
Os elementos que compõem a bateria e que mencionamos neste artigo são infinitos… Vai depender principalmente da vontade do baterista e do que pretende fazer. No entanto, os únicos elementos essenciais para uma bateria são o prato de choque, a caixa e o bombo. E, claro, as baquetas! Todos os outros elementos estão presentes apenas para adicionar melodias diferentes e novas.
Cada baterista é livre para construir a sua bateria como quiser, com tantos timbalões e elementos que quiser, na ordem que quiser e de acordo com o seu estilo preferido de música. Em termos de baquetas, também é possível escolher o tamanho, e pode optar pelas que são normalmente utilizadas no jazz, que proporcionam uma sonoridade mais suave que as de madeira.

Os tambores são um instrumento multicultural: as caixas e os bombos são europeus, os pratos vêm do oriente e os timbalões são de origem africana e ameríndia. Por isso, de acordo com as influências da música que se deseja criar, a bateria assumirá formas distintas. É, como tal, instrumento personalizável, de acordo com os seus próprios gostos, os seus desejos e a sua forma de tocar.
Glossário dos componentes da bateria
Agora que sabemos o que compõe uma bateria, já pode começar o seu curso de bateria! A não ser que ainda precise de uma pequena ajuda com o vocabulário?
Para o ajudar, deixamos um pequeno glossário sobre termos musicais relacionados com a bateria:
- rack: um pé para fixação de pratos e timbalões. Tem a particularidade de ser flexível e permitir fixar o maior número possível para ganhar espaço nos pés;
- prato chinês: ao contrário dos modelos anteriores, tem bordas viradas para cima. A maioria dos bateristas prefere posicioná-lo de cabeça para baixo para evitar danificar as baquetas. Possui uma sonoridade muito particular;
- automático: o mecanismo que aciona a esteira;
- doubles: duas notas seguidas com o mesmo membro;
- batedor: peça do pedal do bombo que toca na pele. A “cabeça” do batedor pode ser feita de diversos materiais (feltro, plástico, madeira), que resultam em diferentes sons;
- acento: nota tocada com volume mais alto;
- abertura: um toque no prato de ataque fechado seguido imediatamente da libertação do pedal. A duração da abertura pode ser determinada na partitura. Também pode ser muito rápida com função de enfatizar um acento;
- BMP: referente aos batimentos por minuto, é a referência do metrónomo para estudo. Em músicas pop/rock, os BPM costumam marcam as semínimas (tempos 1,2,3,4 do compasso);
- grace: nota fraca colocada junto a uma acentuação;
- drag: uma sequência de 3 toques, um duplo muito leve (double grace) com uma das mãos, seguido de um acento com a outra. É interpretado como uma única nota;
- flam: dois toques rápidos (um em cada mão) com o acento no segundo toque. É intepretado como um único tempo;
- ghost notes: notas de baixa intensidade tocadas durante um groove, com objetivo de acrescentar swing;
- grip: a forma de segurar as baquetas. Existem dois tipos mais utilizados, o matched e o traditional. No primeiro as mãos seguram nas baquetas da mesma forma, palmas para baixo, pinça entre as falanges do polegar e do indicador, fazendo mola com os outros dedos. No segundo, a mão esquerda (direita pros canhotos) segura a baqueta atravessada, com a palma voltada para cima, e a pinça entre o polegar e a base do indicador. A mola é feita entre o dedo médio e o anular ou entre o rebote e o indicador;
- pinça/mola: a forma de acionar o movimento da baqueta com a mão. A pinça é formada pelo firme agarramento entre dois dedos. A mola corresponde ao acionamento do movimento com os outros dedos. A forma de acionar varia com o grip;
- swing: a capacidade de gerar pulso;
- sustain: o tempo que a peça sustenta o som após o toque;
- decay: o tempo decorrido entre o final do sustain e o final do som após um toque;
- abafamento: o ajuste no som do tambor que tem por objetivo encurtar o sustain e acelerar o decay;
- rudimentos: frases percussivas originalmente criadas para o toque. Consistem em 14 séries de toques (e dezenas de variações) que são estudadas e memorizadas até a execução automática;
- ataque: o tempo decorrido entre o toque e o volume máximo. Em percussão, é sempre muito rápido, mas podem ser observadas diferenças subtis ao variar a espessura das peles, as dimensões dos elementos ou a profundidade dos tambores.

Agora já pode conversar como um verdadeiro músico!
Como começar a prática de bateria?
Depois de conhecer quais são os elementos essenciais do seu kit, está na hora de começar a praticar. Mas como o fazer?
Compreender teoria musical, ler uma partitura ou tocar os primeiros acordes pode parecer muito complicado no princípio. Mas compreender e reproduzir um ritmo é algo totalmente ao seu alcance. Saber ouvir e captar essa essência é uma prática que é desenvolvida ao longo do tempo, ao apurar o ouvido e a capacidade de reprodução.
Para começar, deve entender a batida. É a batida que faz com que balance os pés ou a cabeça quando ouve uma música. Esta funciona como uma espécie de pulsação da música. Não é porque há pausas, preenchimentos e mudanças na intensidade do ritmo que se pode dizer que a música muda. Uma boa dica para quem está a começar, é tentar manter-se firme mesmo quando a bateria parar ou os ritmos sofrerem alterações.
Cada pulsação marca um tempo. E cada ritmo é composto por 4 batidas. Por isso, deve tentar contar de 1 a 4. O tempo mais forte é sempre o primeiro. O mais comum são as repetições a cada 2 ou 4 batidas.
Mas existem exceções, como a valsa e o jazz, que contam com intervalos de 3 batidas. Nestes casos, são ritmos ternários. E os blues misturam ritmos binários e ternários. Para quem está a começar a aprendizagem, o ideal é preferir os binários de 4 batidas. Estes são mais fáceis de entender e de se decompor. Normalmente, esta estrutura está presente no pop, rock, rap, techno e outros ritmos semelhantes.
Depois de ver as batidas possíveis, é só prestar atenção. Quando há outros instrumentos musicais tocados em conjunto, também deve prestar atenção à harmonia, sejam de corda ou percussão. A bateria encaixa facilmente com outros ritmos. Para ter mas facilidade em conquistar sentido rítmico e ganhar precisão pode tentar:
- Sintonizar o metrónomo numa frequência baixa;
- Faça sequências de 2, 3, 4, 6 e 8 acordes;
- Encaixe as sequências nas marcações de 4 tempos;
- Esteja atento à precisão dos acordes das suas batidas.

Mas, acima de tudo, é preciso tempo. Ao contrário do que possa pensar, ninguém nasce a dominar os ritmos. Mesmo que tenhamos uma musicalidade natural, isso não quer dizer que consigam reproduzir melodias automaticamente. Isso requer muita prática e tempo! A memória precisa de ser trabalhada, e será muito mais fácil identificar erros numa partitura que já conhece há 10 anos, do que aquela última que aprendeu no mês passado.
Há medida que ganha mais prática, também tem maior facilidade de concentração. Mas esta característica também se desenvolve com a técnica. Se é uma das pessoas que têm dificuldades em manter o foco, vá com calma. Esta calma também ajuda a evitar que tenha a sensação de que o tempo está a passar rápido e a desenvolver a concentração. O stress é um dos fatores responsáveis por desencadear a instabilidade na melodia.
Além disso, também deve respirar naturalmente enquanto toca. Se bloquear a respiração, será mais difícil manter um ritmo fluido, e isso significa que se encontra em dificuldades. Cabe a si trabalhar quer na respiração, quer em manter a calma, para emitir os acordes corretos e conseguir transmitir a melodia que deseja!