Não basta apenas ser professor, é preciso ser mestre na arte de ensinar.
Vanessa Clariza Pena
O conhecimento necessário para ser professor de olaria engloba muito mais do que saber trabalhar com a argila ou onde comprar barro para moldar. É necessário aliar o domínio técnico da teoria à prática e à pedagogia. Por muita experiência que tenha como ceramista, isso não significa necessariamente que será um bom professor. Nem que tem formação suficiente!
Para tornar o ensino da cerâmica numa carreira, é necessário ter formação específica sobre a olaria e sobre o ensino em si. Se gostava de passar da sua loja do ceramista para a educação e mudar de carreira profissional, continue a ler para saber qual é a formação que tem que ter para poder começar a dar aulas de olaria!
Que caminho é necessário seguir para ser professor de cerâmica?
Se gostava de tornar o ensino de cerâmica numa profissão, terá que cumprir alguns passos específicos para lá chegar. No fundo, o caminho é muito semelhante ao que faz para se tornar um professor de arte.

Para aprender todas as técnicas essenciais de olaria e modelagem, a história da arte e os aspetos mais importantes do ensino e da pedagogia, terá que fazer formação sobre as artes cerâmicas. Se quer ser professor, terá que frequentar uma universidade, faculdade ou escola de arte que ofereça um curso de cerâmica, escultura ou artes plásticas.
Depois, terá que continuar a sua educação superior e completar a sua formação pedagógica, para poder ser um professor e exercer numa escola do país. É um requisito obrigatório para poder exercer a profissão em Portugal.
Também é essencial que adquira experiência prática, como ceramista e como professor. Pode, claro, criar as suas próprias peças cerâmicas em casa, mas também pode arranjar um part-time num atelier de cerâmica ou voluntariar-se para ensinar em associações locais ou centros comunitários na sua zona.
Tal como para muitas outras profissões, principalmente aquelas que requerem o contacto regular com crianças, terá que entregar um Certificado de Registo Criminal antes de começar a trabalhar.
Depois de adquirir as qualificações e experiência necessárias, pode começar a procurar oportunidades de emprego como professor de cerâmica. Sendo uma área tão versátil, estas oportunidades podem ser em escolas públicas ou privadas, escolas de arte, centros comunitários, associações culturais ou ateliers ou oficinas de cerâmica.
Que formação é necessária para lecionar no ensino público?
Em Portugal, para lecionar no ensino público, é necessário ter a formação adequada e obter a habilitação profissional específica para a área em que quer ensinar. De forma simplificada, é necessário possuir uma licenciatura ou curso técnico equivalente na área + mestrado na área do ensino. Mas vejamos mais alguns detalhes.
Para começar, a profissão de professor obriga a possuir uma licenciatura na área que quer lecionar, neste caso cerâmica. Poderá optar por cursos como:
- Curso de Artes e Design em Cerâmica e Vidro no Instituto Politécnico do Porto;
- Curso de Especialização em Tecnologia Cerâmica da Universidade de Aveiro;
- Curso de Design de Produto - Cerâmica e Vidro do Politécnico de Leiria;
- Licenciatura em Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes do Porto.
Estes são apenas alguns exemplos pelo país fora, mas encontra muitos mais.
Após a conclusão da licenciatura, é necessário completar um mestrado em ensino. Este passo é essencial para obter a certificação profissional necessária para poder lecionar no ensino público. O mestrado específico que vai fazer, no entanto, vai depender dos seus objetivos de carreira e quem e onde quer ensinar. Existem cursos específicos para conseguir a habilitação para a docência do 1º, 2º, 3º ciclos e do ensino secundário. Deve optar pelo que fizer mais sentido para o seu trajeto profissional.
No decorrer desta formação, terá ainda que realizar um estágio pedagógico supervisionado numa escola pública ou outra instituição de ensino. Este estágio é uma parte muito importante da sua formação como professor, uma vez que oferece a oportunidade de ganhar experiência prática em sala de aula sob a orientação de um professor experiente.
Depois de concluir a sua educação superior e o estágio, está na altura de integrar o concurso de colocação organizado pelo Ministério da Educação. Este concurso determina a colocação dos professores em escolas públicas, com base nas necessidades do sistema educacional e nas classificações obtidas no concurso. Mas, se preferir, também pode procurar oportunidades em instituições de ensino privadas ou em ateliers de cerâmica particulares. Existem inúmeros locais onde pode dar aulas!
É possível dar aulas de cerâmica sem ter um diploma?
Também é possível dar aulas de cerâmica sem ter um diploma de habilitação, em contextos informais ou particulares. No entanto, é importante ter em mente que, mesmo sem um diploma, é essencial possuir um conhecimento sólido e competências práticas nos processos de cerâmica (modelagem, esmalte, queima) para a conseguir ensinar de forma eficaz. É necessário ter mais do que uma compreensão da teoria para garantir uma experiência educacional de qualidade aos alunos.

Se tem muitos anos de experiência prática nas artes cerâmicas, a trabalhar como ceramista, a participar em workshops e a aumentar o seu conhecimento técnico, essa experiência pode ser valiosa para ensinar a trabalhar com o barro e a argila, mesmo sem ter um diploma.
Existem algumas situações em que é possível ensinar olaria sem ter um diploma:
- Aulas particulares ou workshops independentes: pode oferecer aulas particulares ou workshops independentes no seu próprio atelier, num espaço alugado ou até mesmo na casa dos alunos. Nestes casos, o foco está na prática e na transmissão de capacidades específicas, e um diploma pode não ser estritamente necessário;
- Contextos comunitários ou informais: nos centros comunitários, associações artísticas ou programas de educação continuada, as exigências de credenciais podem ser mais flexíveis. Nestes casos, alguém com experiência e domínio do trabalho com o barro pode ser contratado para ensinar com base na sua experiência prática e conhecimento;
- Trabalho voluntário ou atividades extracurriculares: também pode ensinar cerâmica como voluntário em escolas, organizações sem fins lucrativos ou programas extracurriculares, desde que possua competências técnicas sólidas e uma abordagem pedagógica eficaz para trabalhar com os alunos.
Ou seja, tem muitas opções! E é algo que deve ponderar antes de poder começar a dar aulas.
Que qualidades são necessárias para ensinar cerâmica?
Ensinar cerâmica requer uma combinação de competências técnicas, conhecimento dos processos artísticos e qualidades pessoais que contribuem para uma experiência educacional eficaz e gratificante.
Para começar, um verdadeiro amor pela olaria é essencial para inspirar e motivar os alunos. Um professor verdadeiramente interessado naquilo que ensina transmite entusiasmo e energia positiva, o que pode ajudar os alunos a se envolverem mais profundamente. Só depois é que chegamos à parte teórica.

Um professor deve ter um alto nível de conhecimento teórico e técnico em todas as áreas da cerâmica. É necessário que possua uma boa compreensão da história e teoria da arte, incluindo os diferentes tipos de barro e argila, esmaltes, técnicas de modelagem e decoração, utilização dos fornos, etc.
É isso que vai permitir que demonstre cada técnica com precisão e forneça orientação prática aos alunos, bem como que seja capaz de identificar a que período histórico e cultura corresponde cada estilo.
E não podemos esquecer as questões pessoais!
Um bom professor de cerâmica deve ter uma capacidade de comunicação eficaz, para ser capaz de transmitir todas as informações de forma clara e compreensível aos alunos. Isto inclui explicar técnicas, dar feedback construtivo e responder às perguntas dos alunos de forma clara e concisa. Também é necessário que seja paciente e tolerante. Ensinar cerâmica é um processo demorado e desafiador, e os alunos podem cometer erros ou enfrentar dificuldades ao longo do caminho. Terá que ter paciência e tolerância para lidar com essas situações de forma calma e compreensiva, incentivando os alunos a persistirem e aprenderem com os seus erros.
É essencial que esteja sempre aberto à aprendizagem contínua e ao desenvolvimento profissional, tentando sempre melhorar as suas capacidades e conhecimentos para servir melhor os seus alunos.
No fundo, o seu papel é manter a ordem e a disciplina, ao mesmo tempo que promove um ambiente de aprendizagem positivo e colaborativo. Deve manter um equilíbrio entre a teoria e a prática, para que as aulas não sejam demasiado aborrecidas e os alunos possam ter tempo necessário para criar as suas peças. E, claro, permitir sempre que os aspirantes a ceramistas tenham a liberdade de dar asas à sua criatividade e expressão pessoal, explorando novas ideias e abordagens criativas nos seus projetos cerâmicos!
Se garantir tudo isto, podemos garantir que as suas aulas serão um sucesso e terá muitos aspirantes a ceramistas a bater à porta à procura da sua ajuda e aconselhamento.